quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ensino superior em crise

Pouco antes do Carnaval, em sala de aula, ouvi de uma professora, no meu curso de Direito, a proficiente afirmação: "no Brasil, os trabalhadores são alunos, enquanto que o ideal seria termos alunos que trabalham". No exato momento em que a assertiva foi proferida, percebi a profundidade do que disse a Dra. Maria da Graça Soromenho (Prof. Direito Civil - UNESA).
Embora o ato de estudar nos impulsione para uma certa distância da estatística do desemprego, não há garantias de que o pofissional com notável enriquecimento intelectual será mantido no mercado de trabalho. Principalmente quando a atmosfera é de crise econômica. O lema ainda é o de que "quem não estuda, puxa carroça", tantas vezes bradado pelos nossos avós. Hoje, ao abrir os jornais, deparei-me com mais um desdobramento prático desse raciocínio.
Por muitos anos visto como um negócio altamente rentável e em franca expansão, as faculdades privadas estão sentindo bastante os efeitos da crise econômica. Um estudo, divulgado hoje pela Folha, mostra que 41,5% das faculdades terão queda no número de alunos ingressantes este ano, na comparação com 2008.
O levantamento foi feito pelo Sindicato das Instituições Particulares de Ensino, cujo presidente, Sr. Hermes Figueiredo, parafraseou o que disse, em sala de aula, a Prof. Soromenho: "Nosso alunado é formado em sua maioria de aluno-trabalhador". E completou: "Em qualquer problema de desemprego, dele ou de algum integrante da família, ele desiste do curso superior".
E, como o BNDES parece ser a "mãe" dos prejudicados pela crise, as faculdades privadas já pediram ao banco público uma linha especial de financiamento. Foi tomada, por tanto, a inciativa de uma medida paliativa, de contorno da crise.
Cabe, ainda e há muito, ao Estado buscar medidas e reformas profundas no sistema de ensino, capazes de promover mudanças culturais na estrutura de formação das pessoas das classes menos abastadas da sociedade brasileira.
Precisamos de mais que bolsas! A massa tem sede e tem fome, mas não só de água, nem só de comida, já diziam os Titãs.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Ótima colocação de sua leitora Priscila. Tb temo pelo futuro de nossos filhos e netos. Espanto-me ao ouvir mães e pais 'instruindo' seus filhos a optarem - não pelo q gostam ou teem qq aptidão para exercer mas - pelo tal curso de Direito pq 'facilita prestar concursos e ter emprego'. Será?? O contingente q estuda Direito e passa num concurso público é mínimo. E se meu descendente estiver fora deste grupo? Será um bacharel frustrado pq queria ter feito História, Artes ou Teatro? Pq Música não pode? Pq não dá dinheiro??Pq é inviável Geologia?? E pq raramente se opta por uma licenciatura apenas pq precisa trabalhar?? E se não gosta ou não tem aptidão para lecionar?? Posso ser romântica em crer q, quem faz o q gosta, não trabalha NUNCA!! Pode ser até q nem tenha a estabilidade de um emprego público (caso consiga passar num tal concurso), a aposentadoria integral, a possibilidade das tres faltas injustificadas sem maiores danos causar à 'carreira' mas há mais além disso, não? E o prazer de ser reconhecido pelo seu talento, pelo seu desempenho e ser recompensado pelo seu esforço? É claro q mereceria outro post - ou até + de um! - a injustiça entre as regras para os funcionários públicos e os privados e q acabam 'justificando' essa busca desmedida pelo emprego público. Mas ensinar a gostar de estudar e a buscar onde está seu dom é tão lindo para ser tão simplesmente ignorado....Prefiro insistir com meu filho q, desde q ele se dedique ao q faz com prazer, aquilo será fonte de alegria e renda para sua vida. Q assim seja! Quanto às universidades pagas receberem ajuda do BNDES,...não me espanta!Fui aluna da UFF e, por ela, tiro as outras faculdades federais. Estão sucateadas, podres, desacreditadas. E, nós, ficando sem saída. Se não for pela ética, nosso beco fica mesmo sem saída...

    ResponderExcluir
  3. É, gente... o assunto Educação já foi menos polêmico. Houve um tempo em que apenas uma pequena parcela da sociedade tinha interesse nele. Nossas manifestações revelam o grau de evolução democrática do ensino. Se bem que, ainda muito no rascunho da educação almejada. Importante é que a voz dos insatisfeitos tome corpo. Não tardará a virada de mesa! Obrigado, Selma e Priscila.

    ResponderExcluir

Agradeço o interesse e espero mesmo por sua impressão.
Obrigado.

Visite o blog da minha filha, Ana Luiza!