quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Desinteresse Político



Por Sânio Eduardo Fontes de Aquino*

Nas longas horas de espera em uma fila para conseguir a 2ª via de um documento que perdi, uma matéria do JB de hoje me chamou a atenção. Falava sobre o desinteresse dos jovens fluminenses pelas eleições. Segundo a matéria, o pleito deste ano vai contar com o menor número de eleitores com idade entre 16 e 17 anos desde 1992: apenas 0,6% do total.
Trata-se de demonstração, por números, de desencanto com a política que vem crescendo há dezenas de anos. A democracia no país, instaurada em 1985, sofre verdadeiros bombardeios desde a queda de Fernando Collor, destituído da Presidência por improbidade.
Claro, esse rescaldo na participação política não é exclusividade do Estado do Rio de Janeiro, muito menos do Brasil, como se pode ver no artigo “VOTO NULO, NÃO”, do professor e juiz Rogério Medeiros Garcia de Lima sobre o processo eleitoral de 2006, publicado no site da AMB.
Por oportuno, transcrevo parte do pensamento do autor registrado naquela época:
O filósofo francês Jean Paul Sartre lembrava que uma das principais causas da despolitização é o sentimento de impotência e isolamento que toma conta das pessoas. É necessário - pregava Sartre - dar a elas a sensação de que alguma ação é possível: "Fazê-las compreender que podem lutar no seu nível, na sua cidade, contra o sistema de distribuição de renda, contra a elevação abusiva dos preços, contra a intoxicação pela propaganda oficial etc.". E contra a corrupção, acrescentamos os brasileiros.
As notícias são manipuladas. Programas de auditório e novelas de TV fazem disfarçadamente propaganda de candidatos. Artistas famosos são contratados, a peso de ouro, para animar "showmícios".
O filósofo grego Platão lembrava que as pessoas de bem devem participar da política. O castigo imposto àqueles que não se interessam pela vida pública é "a queda das questões públicas nas mãos de gente menos virtuosa". Em outras palavras, se nos omitirmos em prestigiar os homens de bem, os corruptos continuarão reinando. Brasileiros, votem! E votem conscientemente.
(Trecho de artigo sobre as eleições de 2006, de ROGÉRIO MEDEIROS GARCIA DE LIMA - Juiz de Direito do TRE-MG e professor da Newton Paiva)
Já o imortal João Ubaldo Ribeiro lembra que há um exercício de direito, uma faculdade jurídica quando alguém diz que “não liga para a política”. Mas, providencialmente, o autor também alerta para o fato de que o ser humano é político e que decisões, as mais simples do cotidiano, são essencialmente políticas:
A política não é, pois, apenas uma coisa que envolve discursos, promessas, eleições e, como se diz freqüentemente, ‘muita sujeira’. Não é uma coisa distinta de nós. É a condução de nossa própria existência coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência individual, nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de educação, nossa felicidade ou infelicidade. (JOÃO UBALDO RIBEIRO – Política: Quem Manda, Porque Manda, Como Manda – 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998 – p. 20)
O próprio escritor João Ubaldo questiona: Será que existe algum “poder” que só dependa de quem o exerce e nem um pouco daqueles sobre os quais é exercido? Se fizermos uma lista, digamos, de cinco problemas que estamos enfrentando nesse momento, é possível ver em alguns deles, ou em todos eles, implicações políticas? (Idem, pág. 22 e 23)
Na Universidade em estou me graduando em Direito, por exemplo, alguns poucos e preguiçosos colegas estudantes são contrários a um aspecto da política pedagógica da instituição, eles não aprovam um estudo de casos concretos que são propostos nas disciplinas. Coincidência ou não, esse mesmo público, estatisticamente, quase se repete em altas vozes contra a exigência de aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil para a obtenção da carteira de habilitação profissional, sem a qual não se pode exercer a advocacia. Trata-se ou não de uma questão política?


SANIO EDUARDO FONTES DE AQUINO é radialista e estudante de Direito pela Universidade Estácio de Sá – RJ. Escreve no Blog COMUNICAÇÃO E DIREITO e na coluna Direito & Cidadania do site NOTÍCIA PESCADA.COM


Em tempo:
O Ministério da Educação anunciou ontem um corte de 3.313 vagas em cursos de direito. O número de cortes chega agora a 16.231, ou um terço do oferecido pelas 81 faculdades que oferecem esse curso no Brasil. Essas vagas são de cursos que obtiveram notas 1 e 2 (numa escala de 1 a 5) nos exames aplicados pelo MEC (informação da Folha).
Há casos extremos de precariedade do ensino, mostra a reportagem. Um deles é o curso de direito na Unip de Assis, no oeste de São Paulo – simplesmente 90% das vagas terão de ser cortadas.

2 comentários:

  1. Olá Edu! Tudo bem? Olha já criei uma pasta nos meus arquivos do yahoo para guardar seus artigos rs! Muito bacana o que tenho lido de suas opiniões, divagações e estudos. Bom, precisava um dia me cadastrar e demonstrar todo meu apreço e admiração por você enquanto amigo e profissional. Então...sobre sua última postagem mesclo um pouco com a minha área pedagógica e vejo que é um "atavismo" talvez os adolescentes não estarem voltados para o que acontece em seu município e até mesmo em seu país. Atualmente, em virtude de várias questões sociais cumulativas historicamente falando, por isso me apropriei e tentei adaptar o termo "atavismo", nos colocamos numa berlinda e num senso comum onde se diz, no caso aqui os jovens adolescentes, que não se gosta de política que todos mundo "é ladrão"...simultaneamente ele ve seu pai fazendo gato no poste de energia elétrica, tirando a etiqueta de uma mercadoria e colocando na outra e ainda dizendo que o dono de tal loja tá RICO...e assim vai.Trocando em miúdos, esses sujeitos são reflexo de uma família que possui uma "genética social" pautada no ganho fácil,onde traz ranços de uma postura política da doação e não da Ação, o líder bom é aquele bonzinho:- Olha lá que senhor bom meu DEUS, ele dá pra nós...ele é muito caridoso!!!ele olha pelos pobres...!!!!! O tal ditado dá o peixe ,mas ensina-lo a pescar... virou falácia! A educação atualmente virou algo como matricular o filho e ganhar bolsa família. Tudo bem legal(outras questões podemos discutir aí)...mas voltamos aquele velho papo que o "bonzinho" é aquele que dá dá dá...Nossa me comovo com tanto altruísmo!!!rsrsrsr
    Ironias de lado...quero registrar aqui que rever o conceito, a postura, e outras discussões que envolvem a família é o grande TCHAN da questão...Atualmente estou em uma especialização que discuti e pesquisa isso aí o tempo todo, e quando se investiga uma queixa de um cliente os primeiros passos é megulhar na questão familiar...não tem como...como você colocou e reintero, somos seres sociais e nosso individual está norteado pelo coletivo e vice-versa.Mas amigo como essa conversa é longa viu!!! Tá na minha hora e tenho que ir!!! Deixo aqui um pedacinho de uma inquietação...Mas depois daremos continuidade, Beleza? Um super beijo te gosto de montão!!! Tchau.

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  2. Caro Edu,
    isso é q nem a história do tal 'meio ambiente' onde ninguém se incli, parece algo fora da gente. Somos o meio ambiente, somos a política em realização. Nossa participção social são atos políticos. Nossa relação com os vizinhos, a comunidade, td é política. Mas, como bem observou a Érika, a msg q se passa à nova geração é a de q político não presta. Quem presta faz o q, então? Vira platéia? Vejo pais encaminharem seus filhos para a medicina, a engenhari, o direito...mas ninguém para as ações políticas como carreira. Talvez algum bacharel amigo queira então se aventurar....E terá, com certeza, o meu voto! Abs, Edu!

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Agradeço o interesse e espero mesmo por sua impressão.
Obrigado.

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